segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Poema rima com porrada. E quem esquecer disso, que vá estudar os nomes de deus em hebraico. Porra galera, na moral, se palavra é tudo que a gente tem pra quê ficar escrevendo porcaria? De porcos já bastam os donos do capital, com suas matilhas azuis, com suas matilhas negras, com suas matilhas verde-oliva tão fascistas e tão brilhantes. É escrever pra geral e que seja como a fala, dura e pulsante, porque é pela espada e não pelo carinho. Questão de escolha e caminho, e esse aqui, não leva ninguém ao paraíso, não. É por mudança, e essa começa no peito, batendo forte e carregando esse sonho pra frente. É com as armas na mão e não conheço outro jeito. Palavra, é pra fincar bandeira e demarcar terreno. Por aqui os filhas da puta não passam! Pelo riso, mas gargalhada em combate, peito aberto em afronta, e carinho, carinho mesmo só pra quem encontrou as palavras que a multidão pisoteou pela feira. Por sacanagem, mas sacanagem em despeito, documentos à mostra por total falta de respeito, não inventaram ainda o porquê de se respeitar um coletivo tão imbecil e sacana. A sociedade, globalizada, e a gente lutando por nosso quinhão de miséria. Fazer deste então nosso métier, nossa grande obra feita carne e transvestida em linhas infinitas lançadas ao vento. É em nome de outro amanhã mais libertário, um em que amor não rime com posse e liberdade não rime com grana. Porque pra mim, sexo rima com língua, com a soma das línguas misturadas, com as palavras todas meladas louvando os espaços obscuros entre as estrelas. Que não me venham mais com vergonhas mirradas e rimas melosas, esses orgasmos impúberes, esses risos sem tino. É pela falta do que fazer e pela raiva que se carrega na alma ao se afirmar brasileiro. Raiva da nossa falta de sorte e de tanta gente ainda escancarando o rabo pra todo esse lixo que vem lá de fora. Poesia é pra mudar esse tempo, arrebentar de vez com essa nossa história de subserviência, festejar finalmente o nosso carnaval. Aqui, não há meios-termos, as palavras tem recheio e trajetória, a linhagem traçada desde Araribóia. É arco apontado pra cima e pro oceano, pau que avoa longe e cai matando. Entrar de peito no Fluxo pode tirar pedaço. Poesia não é brincadeira não e se a carapuça couber nem desce pro play que eu te engulo. Aqui não tem espaço pra comédia. E se houver algum riso, pode escrever aí que eu assino, ele foi feito de pranto, lágrima escorrendo em pele negra, em pele branca, em pele de gente que nem a gente. Que eu também sou feito de carbono, mas não vou pendurar minha borduna. Saravá Rod Brito. A Poesia nunca esteve em qualquer outro lugar.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Um dia eu juro que explico pra vocês quantos eu sou. Quantos caminhos eu percorri. Quantos instantes houveram por trás do poema. É trajetória e linhagem, diálogo com todos os infinitos que acompanham, movimento e mutação, danças sagradas à lua, mergulho de cabeça no fluxo. Isso que está além e ainda assim sou parte. O contrário do vazio, o todo interligado. Aonde se buscam as palavras e aonde moram todas as coisas que nunca serão escritas. Um dia eu juro que te explico todos os meus nomes, aqueles pelos quais me conhecem e os outros que nem eu conheço. Um dia, vou achar o meu próprio nome. O que é só meu. Há coisas que se escondem nos espaços entre as estrelas e há coisas que sobrevivem no vão entre as pessoas. Coisas que tem que ser combatidas. Coisas que tem que ser derrubadas. Minha luta é pelo fim do segredo. Pelo fim do sussurro. Pela celebração desse agora. É tudo ligado e é tudo a mesma coisa. Tudo agora, amanhãs são mentira. Não vai dar nunca pra te explicar o que quer dizer tempestade ou o branco luminoso. Se você não for empata, vai ser difícil entender o brilho pro trás desses olhares. Há muito além do poema e disso tudo que está por aqui. Me volto pra dentro e olho mais fundo. Um dia eu te explico o porquê do poema. 

domingo, 12 de setembro de 2010

Por mais puto e punk e junkie e louco que eu possa ser, eu também preciso de sacanagem e de carinho. Cansado de ter que ficar fingindo ser montanha. Cansado de atravessar esse deserto. Aprender a ser o próprio vento, demora muito tempo. Tempo demais. Viver pela palavra cobra um preço muito alto. Transparência. Ser sempre sujeito homem com o texto. A palavra é maior, mais or, e não se prende a nada. Bandeira negra de mim mesmo. Eu sou a minha própria revolução.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Quem caminha pelos extremos pode fazer qualquer coisa. O problema é o querer. Mais triste que choro na feira. Bom que carrega a bateria. Poeta tem que dar uma carregada de vez em quase. Ajuda. Aliás em vez de ajudar atrapalha. Mas ninguém falou que ia ser fácil. É que com tanto dentro fica mais fácil de empurrar pra fora.  Fazer do muito, pouco, e jogar pra frente adiante. Jogar pra frente, longe. Isolar de bico. As vezes eu acho que sou o último a botar fé no poema. Esse blogue não foi feito pra se escrever nada sério. É desabafo somente. Palavras que não vieram como pedra mas como aviãozinho de papel no vento. Que voem longe. Tenho que parar de fumar e fico postergando. Tenho que começar a concentrar na chama da vela e fico com preguiça. Tinha que ir trabalhar e fico aqui postando. Escrevendo sempre e desde sempre. Há muito. Isso, aquilo que não muda, faça sol ou vento,  na alegria ou pelos bares gritando. A poesia está além, a poesia está aqui. Nunca esteve em nenhum outro lugar. Pode vir a porrada ou a buceta que for. A poesia não está no outro. Cada um tem a sua chave, e a minha está aqui. Em algum lugar aqui dentro. Eu sou parte do fluxo e ele não está dentro de mim. Somente. Em qualquer tradição é preciso o silêncio. Na minha é preciso o poema. Que também é silêncio, no seu próprio jeito. Silencioso que nem água pra derrubar montanha. O poeta pode até ser brasa, tição, labaredas pelas ruas, mas todo poema é água. Represada, em poças ou escorrendo pelas calçadas. Poemas são expansão. A paixão primeira, pelo verbo. Não a paixão pelo nome. É ação direta com intento. Mexe e move. Nomes morrem, poemas alargam. Abrem caminhos. Derrubam represas, castelos de areia, essas paredes entre as pessoas. Descalço na lama, uma estrela no peito e outra em cada uma de todas as pessoas, sobre a cabeça o infinito de estrelas, ao meu redor flamejam quatro estrelas de cinco pontas. Meus cantos estão protegidos. Meu canto está ecoando. E não achei verdades maiores do que a página em branco. Bom, vermelho sobre branco então, Kao Kabièsi. Caô kabecilê

domingo, 29 de agosto de 2010

Uma coisa o estado de luz. Outra o estado de trevas. Conheço os dois. Não muito bem que meus caminhos são oitos, que meus caminhos são outros. O estado de vazio não tem nada a ver com essas duas coisas e é a única forma de se atingir o âmago de todas as coisas.

sábado, 28 de agosto de 2010

Não é uma palavra complicada. O que se pode, o que se dá, o que se pensa, o que se há. Palavra boa de ser riscada, jogada em punhados a fogueira. Há palavras que valem mais. demais cachoeira estrada sacanagem cerveja covardia. Não essa dos jornais, mas a nossa, do dia a dia. A sagrada malhação do palhaço para não mais se malhar judas por aí. É preciso intenção para a nossa putaria. vontade e direção. Movimento e as risadas. É preciso gargalhadas, poemas, mais cervejas, sempre mais cervejas. Porque até talvez vencer nunca, ainda vai rolar muita pedrada. Poema pra mim vem de porrada. Não a que se leva, mas aquela que se dá. Raiva nem sempre tem como destino final a porra do muro. Os milhões se matando no saco também servem pra se mudar o  mundo. Compromisso e conflito que são milhares os que vivem na casa do caralho. Por compromisso e através de porrada. para que o não, acabe e qualquer nunca vire talvez, outro agora. Os amanhãs da folha não pertencem ao poeta e ainda assim serão outro agora, outra hora. Porque tempo não é isso que passa, mas o que permanece. Sempre novo mas sempre agora. Aquilo tudo que se repete de novo. Os movimentos peristálticos da palavra com tudo que nos rodeia. A pulsação própria do texto, os axiomas da esmeralda através do sangue riscados na folha. O pequeno no muito grande. Ou o muito pequeno no menor ainda. Importante são as ondas no lago e a tempestade do outro lado do globo.
Importante é a página em branco, as pessoas em branco, as cabeças em branco, nossos conceitos em branco. A possibilidade de rabiscar de novo isso tudo só que dessa vez encher de cores. Jogar azul nas nuvens e amarelo no céu, pintar as árvores de vermelho fogo, tochas milhares sacudindo ao vento. Caminhar nessa estrada de tijolos vermelhos de mãos dadas olhando o nascer de mais um dia turquesa. Importante é a possibilidade do novo. O novamente sem ser repeteco. O de outro modo, qualquer outro jeito, o cada qual criando seu mundo. O cada um do seu próprio jeito e a negação deixada ao relento. Se permita. Se jogue. Vá com os dentes no fundo. Roube fruta do pé e deixe-se escorrer pelos cantos. Nenhum outro dirá não. A palavra do desejo é soberana. Não há palavra que vença vontade dirigida. É só o amor, é só o amor.
27/10/2010